19 abril, 2009

A propaganda na Segunda Guerra Mundial

Um extrato dos princípios básicos e conceitos da propaganda alemã e americana durante a guerra.
O termo propaganda é normalmente mais utilizado do que entendido. Propaganda é definida, no dicionário, como o "material disseminado pelos que advogam uma doutrina ou uma causa". Holt Van de Velde a define como "uma tentativa de influenciar o comportamento... através do uso de mídias de massa de comunicação, a maneira na qual uma audiência de massa percebe o significado da mensagem passada no mundo material". Nada e nenhum conceito pode, contudo, avaliar o que foi a propaganda entre 1939 e 1945.
A propaganda no período da Segunda Guerra Mundial alcançou, o que pode ser considerado, o seu mais alto patamar na história até então. Enquanto ambos os lados conflitantes, aliados e o eixo, preparavam-se para a guerra, era necessário o estabelecimento de campanhas, a fim de motivar suas populações e possibilitar o aumento de produção.
A América, recém-saída da grande depressão, agarrou-se à sua política isolacionista. Muitos cidadãos, especialmente aqueles que participaram direta ou indiretamente da Primeira Guerra Mundial, tinham um conceito muito bem estabelecido de não-envolvimento em uma campanha custosa em vidas e financeiramente. A maioria da população via a guerra européia e nos confins do pacífico como muito distante e totalmente desvinculada da América. Acreditava-se que os recursos industriais seriam melhor empregados na reconstrução do país após a recente crise financeira - que ainda existia - do que em uma guerra além mar, cujas causas nada diziam respeitos a eles, os cidadãos estadunidenses. No entanto, a administração Roosevelt, já visualizava que, cedo ou tarde, os Estados Unidos se veriam envolvidos, caso não na Europa, no Leste da Ásia e nos arquipélagos do Pacífico.
Antevendo a iminência de conflito, o governo americano iniciou uma campanha em massa de propaganda, visando convencer o público que a guerra era inevitável e necessária, estimulando o alavancamento da produção e criando a crença que o totalitarismo da Alemanha e Japão estavam muito mais próximos do que se podia imaginar. Esforços foram feitos para convencer os cidadãos da ameaça imediata aos EUA oferecida pelas potências do Eixo. Entretanto, após o ataque de 7 de dezembro de 1941 à base aeronaval de Pearl Harbor, tal tipo de encorajamento não se fazia mais necessário, uma vez que o público claramente percebeu a ameaça presente pelas forças do Eixo. Depois de Pearl Harbor, a propaganda voltou-se diretamente para o estímulo à produção bem como o racionamento de bens indispensáveis para o esforço de guerra. As campanhas martelavam os cidadãos com chamadas para a conservação de materiais como gasolina, metais e outros e os convocavam a ajudar o esforço de guerra através do auxílio na produção de materiais bélicos e insumos de primeira necessidade nos fronts. Este tipo de material e discursos eram realizados em tons nacionalistas, prezando as cores patrióticas e em atmosferas tipicamente americanas (ou inglesas).
O imaginário era muito explorado. Eram muito comuns cartazes demonstrando crianças, supostamente patrióticas, sob símbolos nazistas, instando ao público à compra de bônus de guerra e contribuição no esforço para salvar as crianças e a liberdade da América do tacão totalitarista. Outro foco da propaganda aliada, especialmente inglesa, residia na divulgação que os espiões inimigos estavam em todo o lugar e "um homem está morrendo por que alguém falou demais" ou "conversa cuidadosa salva vidas". Normalmente cartazes com este tipo de foco eram produzidos em cores escuras e atmosferas sombrias conceitualizando a proximidade da guerra do cidadão comum, estabelecendo que qualquer informação, mesmo pequena, seria utilizada pelo inimigo. Em períodos críticos, foi grande também o esforço propagandístico, principalmente britânico, estimulando o recrutamento, especialmente durante 1940, quando as forças armadas britânicas careciam de efetivos devido aos desastres no continente europeu.
Ao contrário do foco propagandístico alemão, nos Estados Unidos e Commonwealth eram comuns os cartazes que estimulavam a participação feminina nas forças armadas e na produção industrial. Ao passo que a guerra avançava, exigia-se cada vez mais a incorporação dos homens que trabalhavam na indústria para a linha de frente. A partir de 1942 tornou-se cada vez mais comum sugestionar o público feminino a se voluntariar para os postos de trabalhos vagos, como uma forma de impulsionar a causa feminista. Elas eram encorajadas pela idéia de que ajudando seu país elas também estariam ajudando a si próprias, embora nenhuma garantia adicional fosse feita. O público feminino era levado a crer que ao tomar lugar nos processos industriais estariam se tornando vitais para a sociedade.
Propagandistas americanos também usavam temáticas raciais para persuadir o público ao suporte do esforço de guerra. Os filmes produzidos por Frank Capra para o exército talvez sejam uma das mais memoráveis campanhas utilizadas pelo governo na Segunda Guerra. Os sete filmes produzidos pelo autor eram chamados, coletivamente, de "Por que nós lutamos". Muitos dos filmes eram focados na desumanização do inimigo. Nos filmes de Capra e campanhas do período, os propagandistas retratavam italianos, alemães e japoneses como assassinos inumanos, sem capacidade de pensamento próprio e voltados à obediência subserviente aos seus líderes loucos. Exemplificando, em "Conheça seu inimigo - Japão", produzido por Capra e lançado durante os últimos meses da guerra no Pacífico, o autor retratava o soldado japonês como um robô comandado pelos seus líderes. Generalizações depreciantes eram feitas em relação ao povo japonês. No filme, Capra enfatiza o soldado japonês com certas características, implicando ao espectador que todos os japoneses eram a mesma coisa, sem qualquer individualidade e idéias originais. Isto era parte do processo de "desumanização" que funcionou muito bem perante o público e o soldado americano.
Na Alemanha, era necessário ao regime nacional-socialista adaptar sua propaganda para diversos fins. Detendo o poder a pouco tempo ainda, havia claras divergências entre os nacionalistas e os socialistas que montavam a base do regime nazista. A propaganda tinha caráter fundamental no intuito de unificar o povo e prepará-lo para os tempos de guerra vindouros. Primariamente, era fundamental convencer o povo alemão da necessidade da guerra, disseminando e inflamando as multidões com o orgulho germânico e justificando todos os recentes problemas sócio-econômicos a outros países e as cláusulas abusivas do tratado de Versalhes. Outra faceta da propaganda alemã era a persuasão dos cidadãos à participação efetiva no esforço de guerra e no estímulo à produção, tal qual era feito na América. Como a Alemanha, durante o período da Segunda Guerra, não possuísse o gigantesco parque industrial americano, os estímulos ao auxílio no esforço de guerra eram ainda mais prementes do que nos EUA.
A propaganda Nazista foi única na maneira em que fundia o prático com o mítico. Hitler, mais do que qualquer outro líder do século XX, implicou à nação alemã o irracional, jogando com os mitos e símbolos nacionais em suas campanhas. A propaganda Hitlerista focava-se no renovamento do orgulho nacional e no estabelecimento coletivo dos temores nacionais contra os apátridas judeus e o "demônio bolchevique". A fusão dos temas tradicionais do patriotismo germânico com os motivos ideológicos do nacional-socialismo, tornavam, em alguma campanhas, indistingüível e totalmente vinculados os dois motivos, capitalizando desta forma a possibilidade do Führer de clamar sua autoridade em definir o que é ou não "alemão". Pôsteres no formato "um povo, um Reich, um Führer" eram itens de importância capital da propaganda nazista, estabelecendo um tipo de pensamento comparável a uma "cruzada santa" do povo alemão. Este tipo de propaganda era reforçado por discursos e difusões por rádio. O próprio Goebbels (ministro da propaganda), em seus discursos, normalmente falava sobre Hitler, enaltecendo suas virtudes e o glorificando. Outro item fundamental eram os livros e revistas, mostrando Hitler sendo adorado pelo público, especialmente pela juventude alemã e os impressos que mostravam a humilde nobreza do Führer ao passear com seu cachorro ou cumprimentar a multidão em paradas e desfiles.
Além desse aspecto, os alemães trabalharam intensivamente em convencer o povo alemão da luta e da necessidade de lutar para o estabelecimento do Reich, além de provocar simpatia à causa nos territórios ocupados (especialmente nos países ocidentais, como França, Bélgica e Holanda). A propaganda de guerra alemã utilizou uma gama muito variada de veículos. A maior parte das campanhas era implementada através do recém-inventado rádio, bem como através dos discursos dos principais líderes nazistas. Pôsteres e outros materiais gráficos, como livros e panfletos, também eram largamente empregados a fim de atingir públicos específicos como membros do partido e forças combatentes, além de estimular o recrutamento, principalmente entre a junventude alemã.
A exploração alemã do anti-semitismo e do anti-bolchevismo utilizava temas de reconhecida popularidade. O judeu já havia sido estereotipado muito antes dos nazistas começarem a denegrí-los. O antigo anti-semitismo cristão estava vivo como nunca na Europa pré-guerra e o que o partido fez foi capitalizar o ressentimento dos homens urbanizados de uma civilização centrada no dinheiro, desumanizando a figura do judeu e, posteriormente, dos comunistas. Filmes como "O judeu eterno" promoviam associações depreciativas, com estereótipos antigos sobre exploração financeira, provocando ressentimento popular contra estas figuras generalizadas, que supostamente exploravam o povo alemão, e instando o ódio e desprezo. Outros tipos de programas associavam judeus e comunistas com grupos e ligas destinadas a causar prejuízos à Alemanha.
Outro meio extensivamente utilizado pela propaganda alemã durante a guerra foi o lançamento e distribuição de folhetos, contendo textos que exploravam ou estimulavam a rendição sob ameaças ou denegrindo a imagem dos líderes ou sistemas de governo utilizados pelo inimigo. Estas campanhas foram especialmente extensivas nos fronts russo e francês.
Tal como para os americanos, a produção de guerra era fundamental para os alemães. Cartazes onde se lêem, "Você está no front" advertem a população do significado da produção e do trabalho e tornaram-se muito comuns após as primeiras campanhas e fundamentais após a investida para o oriente, na Rússia, quando um grande aumento de produção realmente fez-se necessário. Outros discursos e cartazes promoviam e retratavam a união entre soldados e trabalhadores, instando os últimos a "fazer sua parte" no esforço de guerra, demonstrando cenas de batalha em uma maneira semelhante ao período romântico (era Napoleônica). Este tipo de cartaz normalmente explorava a figura masculina, musculosa, pois se imaginava que força do homem era um conceito interessante para inspirar a confiança nos tempos difíceis.
A propaganda alemã foi extremamente importante para o curso da Segunda Guerra. Tendo o controle da mídia e dos meios de rádio-difusão, o partido nacional-socialista foi capaz de, efetivamente, saturar a Alemanha com seus conceitos e ideais. Isto, combinado com o gênio do homem chamado Joseph Goebbels, criou uma das mais potentes barragens da propaganda de guerra na história.
Fonte deste artigo: Site Grandes Guerras

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